segunda-feira, 23 de junho de 2014

Questões Filosóficas (2): Amor Platônico x amor sexual



Texto (II)

O Amor nos dias atuais

Diziam os velhos filósofos que o homem busca o que não tem, pois se o tivesse, não o buscaria, e que o homem ama o que lhe falta, e porque lhe falta o ama. Se o homem busca o que não tem e ama o que lhe falta infelizmente não temos felicidade e nos falta amor.
Falta-nos amor e por isso saímos em sua busca, somos capazes de seguir qualquer caminho, o que a moda estabeleça, o que o discernimento possa ditar com a finalidade de encontrar esse amor, essa felicidade, que estamos seguros de não possuir.
Hoje, entende-se por amor algo assim como uma inquietude psicológica, que se expressa fundamentalmente através do corpo e do sexo, como se fosse a única possibilidade de expressão. Amor sexual significa “estar na moda”, reservando-se a expressão de amor platônico para algo mais desgastado e fora de moda. O amor platônico é considerado como um repudio ao sexo e a regressão (recordemos aquela frase que foi definitiva na revolução de 68 em Paris: “proibido proibir”; quanto mais proibido, melhor, e o que proíbe, é o que se escolhe. O sexo era tabu e deixa de ser a partir desse momento).
Esta liberação traz, paralelamente, uma complicação: a finalidade do amor se perde. O amor leva à felicidade? O amor sexual continua tendo como finalidade a felicidade ou o que importa é um instante de satisfação? Compreendemos realmente a diferença entre felicidade e satisfação?
Foi assim que nos colocamos na vanguarda da moda e decidimos que o Amor, em maiúsculas, o Amor ideal, era impossível. Demos seu lugar ao amor sexual, ao simples prazer sexual, que nos atrevemos a chamar de amor.
Essa foi a grande revolução, mas agora surge outra pergunta: o que é o amor platônico? Acredita-se que o amor platônico (denominação que vem de um filosofo grego), indica que os antigos gregos não tinham nenhum dilema a esse respeito. Sem duvida, a verdade era outra. Problemas com o amor e dualidades, como os que aqui colocamos, sempre existiram, também na época de Platão. Assim como o filósofo Platão trouxe suas soluções e respostas, tentando oferecer um caminho aos homens, nós tentamos hoje abordar esse tema.
Estamos acostumados a cair na simplicidade de pensar que no amor platônico, o que está relacionado ao sexo será rechaçado, mas não é assim.
Ainda que pareça romântico, todos, embora não acostumados a expressar isso abertamente, estamos aí pela vida esperando que em algum momento, com um pouco de sorte, encontremos nossa alma gêmea e que a metade que perdemos volte a aparecer.

O Segredo

Começando pelos belos corpos, por pouco que observemos, vamos perceber algo muito importante: a beleza do corpo radica-se em algo mais profundo e sutil. Nunca nos ocorreu descobrir esse segredo especial e encantador? Quem pode definir quando uma pessoa é bela? Não concordaríamos nunca com os cânones que nos permitiriam determinar com exatidão que pessoa é bela e qual não é.
Em geral, dizemos que alguém é belo quando tem algo que não é somente o corpo, a forma, a estatura, a cor dos cabelos ou a cor dos olhos, é uma bela alma que se reflete através do corpo.
Podemos dizer, seguindo Platão., que não há somente belas almas, mas belas ações. Há gestos, ações, e sentimentos que enchem completamente a alma. A beleza está além do corpo e além da alma, há energia e vida que também transmitem beleza.
Esse amor que nos apresenta Platão, brilha, não como impossível. ou como uma contradição do amor sexual, mas expõe um tesouro que está ao alcance das mãos, se nos atrevermos a buscá-lo.
Não se trata somente que a nova juventude foque castidade (ainda que pudesse ser, em contrapartida à quantidade de excessos), mas está marcada pela busca de algo profundo, algo estável, por amar uma pessoa que represente algo para nós, algo fundamental. O que importa é que esse amor seja duradouro, seja para hoje, para amanha e para toda a vida, não importa se envelhecemos com a pessoa que amamos, porque os corpos se degastam, mas o Amor não. Esse é o grande descobrimento, que nos coloca como aliados de Platão., no final do seculo XX e como resposta a pretensa liberação do amor sexual.
Outra vez concluímos que o amor sexual é a consequência, uma forma de expressão, mas não é o ponto de partida de uma relação entre duas almas, entre dois seres humanos. O amor sexual é o complemento de uma união muito mais intima e real, o psicológico começa a se elevar mais que o biológico. Hoje é muito mais importante que entre duas pessoas exista compreensão, diálogo, ternura, carinho, companheirismo e que compartilhem as coisas fundamentais da vida.
Do ponto de vista do amor platônico, que abarca o espiritual e o físico, lembremos algo fundamental: aquele que ama, enriquece, porque busca o que não tem e tenta recobrar aquilo que lhe falta. Poderíamos agregar um conselho que diz: “Lembre ao que ama que o Amor lhe outorga algo de divino, porque quem ama leva Eros consigo”.
Há um deus dentro daquele que é capaz de amar. Lembre o que ama! Lembremos: há em nós algo de divino, um Eros, um Amor com maiúscula.

(Livre autoria de Karina Aldrighis)

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