segunda-feira, 23 de junho de 2014

Questões Filosóficas (1): Amor Platônico x amor sexual


Amor platônico x Amor sexual
(Livre adaptação dos textos de Delia S. Guzmán e Anna Holub-Pszywyj – Edições Nova Acrópole).

Texto (I)

O Amor segundo Platão

No mundo da Mitologia, nesse velho mundo, no qual o homem parecia estar em contato com os Deuses, tomemos um exemplo da Mitologia grega, tão próxima aos nossos conceitos estéticos e éticos. Vejamos o que é o Amor, Eros para os gregos.
Segundo Platão, Eros era o mais antigo dos Deuses. Ele não se refere ao Eros que estamos acostumados a ver nas estátuas ou pinturas. Não é esse duendezinho que aparece tao simpático e que está flechando os seres humanos para colocá-los em armadilhas. É um Eros muito arcaico, o Amor Primordial, a Força Primordial de coesão.
Diz a Mitologia que quando o mundo não existia, quando tudo era caos, quando todas as coisas estavam em potência, mas não haviam surgido, nasce um impulso, uma força tremenda capaz de organizar tudo, de unir, de dar forma e vida. Essa força é Eros, a qual se refere Platão. Uma vez que Eros organiza todo o Universo, começa a plasmá-lo em diferentes planos, como se fossem diferentes degraus, que vão descendo, desde um altíssimo e sutilíssimo Céu até uma Terra muito concreta, visível e palpável, onde agora nos encontramos. Eros encarrega-se de que em cada plano exista alguma forma de amor, que expresse o Amor de uma forma apropriada em cada nível.
Platão afirma que se o Amor se expressa em todos os planos do Universo, e lógico que também se expressa no plano físico. Na época de Platão também haviam homens e mulheres que se encontravam e se amavam, e também os que expressavam o amor de todas as formas possíveis.
Os instintos não tem nada de mal. Precisamos destacar uma coisa acima da outra, se somos seres humanos, que deixamos para trás o estado de vegetais e de animais e chegamos a este que nos caracteriza, temos que ter, por lógica, algumas características distintas e próprias. Se reconhecemos os instintos como próprios dos animais, não que o homem não tenha, mas tem algo além deles. Isto é o que Platão postula em seus Diálogos: a busca de uma expressão de amor, que seja própria do homem, que lhe permita encontrar uma felicidade humana, não uma felicidade de animal, não uma felicidade de árvore ou de pedra, mas de um autentico ser humano.
Platão era um romântico. Conta, com seu estilo clássico de mito (quando uma verdade é muito grande para ser captada intelectualmente), que há milhares de anos, quando o Deus Primeiro gerou nosso Universo, começaram a dividir as Almas dos homens, até chegar às milhares e milhares de Almas que habitam a Terra. Essas Almas, que foram se dividindo, sentiam como se tivessem perdido alguma coisa, como se faltasse sua metade. Daí o conceito de almas gêmeas e do Amor como uma necessidade de encontrar aquilo que uma vez fez parte de nós, mas que agora não temos.
O amor era, nem mais nem menos, que a busca da Unidade perdida, da harmonia, por oposição ou semelhança. Por oposição porque nos falta uma metade; a semelhança é dada na afinidade espiritual, aquela que fez com que um dia duas almas fossem uma e por isso necessitam se encontrar outra vez.
Ainda que pareça romântico, todos nós, embora não acostumados a expressar isso abertamente, estamos aí pela vida esperando que em algum momento, com um pouco de sorte, encontremos nossa alma gêmea e que a metade que perdemos volte a aparecer.
Platão nos adverte que nessa busca constante devemos ter cuidado, pois o amor costuma se disfarçar, há um Eros celeste e outro terrestre. O celeste é aquele que impulsiona as almas para encontrar a outra alma que um dia foi parte dela mesma. O terrestre (vemos que o problema também já existia em sua época) somente busca o gozo, a satisfação sexual, o instinto, sem importar-se com os meios que terá que usar para conseguir essa satisfação.
Mas o Eros terrestre, esse amor que somente se fundamenta no corpo, que infelizmente envelhece, adoece e morre, não alcança a felicidade. Platão era muito ambicioso em sua proposição de que o Amor é muito mais que o Amor. Amor é Sabedoria, Amor é Energia, Amor é Vida em todos os planos que conhecemos, em tudo que percebemos como vivo, inclusive as pedras.
Platão afirma, e com ele todos os clássicos, que há uma forma especial de Amor, que é a Energia: uma coisa viva porque tem Energia nela, há coesão, inteligência e harmonia. No mundo do conhecimento há uma forma muito especial de Amor, a Sabedoria, que não é simplesmente querer acumular informações, mas a ânsia de saber, de penetrar nos segredos e de inquirir o porquê das coisas. A Energia, que é Amor não é estritamente matéria.
Segundo Platão, o Belo é igual ao Justo, ao Bom, ao Verdadeiro. O Amor busca-os porque necessita do Belo, do Justo, do Bom e do Verdadeiro, lançando-se atrás deles. Esse é o Amor platônico: encontrar a parte da Alma que nos falta, numa pessoa que represente para nós o Bom, o Belo, o Verdadeiro e o Justo.
Platão diz: “Há uma correspondência entre o belo, a verdade e a justiça. Junto com a ideia do bom e com a ideia da verdade sempre aparece também a ideia da beleza. Se não somos capazes de imaginar algo como bom e justo, que não seja belo ao mesmo tempo, então isso supõe uma falta de desenvolvimento. O homem não deve imaginar estas três coisas separadas entre si. E posto que o belo se faz visível, mais facilmente que a verdade, pode nos elevar à verdade.”

(Livre autoria de Karina Aldrighis) 

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