Amor
platônico x Amor sexual
(Livre adaptação dos textos de Delia S. Guzmán e
Anna Holub-Pszywyj – Edições Nova Acrópole).
Texto
(I)
O
Amor segundo Platão
No mundo da Mitologia, nesse velho mundo, no qual o
homem parecia estar em contato com os Deuses, tomemos um exemplo da
Mitologia grega, tão próxima aos nossos conceitos estéticos e
éticos. Vejamos o que é o Amor, Eros para os gregos.
Segundo Platão, Eros era o mais antigo dos Deuses. Ele
não se refere ao Eros que estamos acostumados a ver nas estátuas ou
pinturas. Não é esse duendezinho que aparece tao simpático e que
está flechando os seres humanos para colocá-los em armadilhas. É
um Eros muito arcaico, o Amor Primordial, a Força Primordial de
coesão.
Diz a Mitologia que quando o mundo não existia, quando
tudo era caos, quando todas as coisas estavam em potência, mas não
haviam surgido, nasce um impulso, uma força tremenda capaz de
organizar tudo, de unir, de dar forma e vida. Essa força é Eros, a
qual se refere Platão. Uma vez que Eros organiza todo o Universo,
começa a plasmá-lo em diferentes planos, como se fossem diferentes
degraus, que vão descendo, desde um altíssimo e sutilíssimo Céu
até uma Terra muito concreta, visível e palpável, onde agora nos
encontramos. Eros encarrega-se de que em cada plano exista alguma
forma de amor, que expresse o Amor de uma forma apropriada em cada
nível.
Platão afirma que se o Amor se expressa em todos os
planos do Universo, e lógico que também se expressa no plano
físico. Na época de Platão também haviam homens e mulheres que se
encontravam e se amavam, e também os que expressavam o amor de todas
as formas possíveis.
Os instintos não tem nada de mal. Precisamos destacar
uma coisa acima da outra, se somos seres humanos, que deixamos para
trás o estado de vegetais e de animais e chegamos a este que nos
caracteriza, temos que ter, por lógica, algumas características
distintas e próprias. Se reconhecemos os instintos como próprios
dos animais, não que o homem não tenha, mas tem algo além deles.
Isto é o que Platão postula em seus Diálogos: a busca de uma
expressão de amor, que seja própria do homem, que lhe permita
encontrar uma felicidade humana, não uma felicidade de animal, não
uma felicidade de árvore ou de pedra, mas de um autentico ser
humano.
Platão era um romântico. Conta, com seu estilo
clássico de mito (quando uma verdade é muito grande para ser
captada intelectualmente), que há milhares de anos, quando o Deus
Primeiro gerou nosso Universo, começaram a dividir as Almas dos
homens, até chegar às milhares e milhares de Almas que habitam a
Terra. Essas Almas, que foram se dividindo, sentiam como se tivessem
perdido alguma coisa, como se faltasse sua metade. Daí o conceito de
almas gêmeas e do Amor como uma necessidade de encontrar aquilo que
uma vez fez parte de nós, mas que agora não temos.
O amor era, nem mais nem menos, que a busca da Unidade
perdida, da harmonia, por oposição ou semelhança. Por oposição
porque nos falta uma metade; a semelhança é dada na afinidade
espiritual, aquela que fez com que um dia duas almas fossem uma e por
isso necessitam se encontrar outra vez.
Ainda que pareça romântico, todos nós, embora não
acostumados a expressar isso abertamente, estamos aí pela vida
esperando que em algum momento, com um pouco de sorte, encontremos
nossa alma gêmea e que a metade que perdemos volte a aparecer.
Platão nos adverte que nessa busca constante devemos
ter cuidado, pois o amor costuma se disfarçar, há um Eros celeste e
outro terrestre. O celeste é aquele que impulsiona as almas para
encontrar a outra alma que um dia foi parte dela mesma. O
terrestre (vemos que o problema também já existia em sua época)
somente busca o gozo, a satisfação sexual, o instinto, sem
importar-se com os meios que terá que usar para conseguir essa
satisfação.
Mas o Eros terrestre, esse amor que somente se
fundamenta no corpo, que infelizmente envelhece, adoece e morre, não
alcança a felicidade. Platão era muito ambicioso em sua
proposição de que o Amor é muito mais que o Amor. Amor é
Sabedoria, Amor é Energia, Amor é Vida em todos os planos que
conhecemos, em tudo que percebemos como vivo, inclusive as pedras.
Platão afirma, e com ele todos os clássicos, que há
uma forma especial de Amor, que é a Energia: uma coisa viva porque
tem Energia nela, há coesão, inteligência e harmonia. No mundo do
conhecimento há uma forma muito especial de Amor, a Sabedoria, que
não é simplesmente querer acumular informações, mas a ânsia de
saber, de penetrar nos segredos e de inquirir o porquê das coisas. A
Energia, que é Amor não é estritamente matéria.
Segundo Platão, o Belo é igual ao Justo, ao Bom, ao
Verdadeiro. O Amor busca-os porque necessita do Belo, do Justo, do
Bom e do Verdadeiro, lançando-se atrás deles. Esse é o Amor
platônico: encontrar a parte da Alma que nos falta, numa pessoa que
represente para nós o Bom, o Belo, o Verdadeiro e o Justo.
Platão diz: “Há uma correspondência entre o belo, a
verdade e a justiça. Junto com a ideia do bom e com a ideia da
verdade sempre aparece também a ideia da beleza. Se não somos
capazes de imaginar algo como bom e justo, que não seja belo ao
mesmo tempo, então isso supõe uma falta de desenvolvimento. O homem
não deve imaginar estas três coisas separadas entre si. E posto que
o belo se faz visível, mais facilmente que a verdade, pode nos
elevar à verdade.”
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