segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Lendo Clássicos: A Carne, de Júlio Ribeiro


Resenha do livro “A Carne”

Livro/Romance do Autor Júlio Ribeiro, um clássico do Movimento Realismo no Brasil, contando com 55 páginas, sendo a obra mais conhecida e popular deste Autor.
(Contém spoiler)

O livro narra a história de Lenita, filha única de um homem aristocrata que, em uma tragédia, perde muito cedo a esposa em um parto mal sucedido, o que o faz cercar a pequena Lenita, sua única filha fruto desta união, de cuidados excessivos e mimos, optando a se dedicar exclusivamente à educação da menina e não casar-se novamente.
A menina cresce muito instruída e culta (fato pouco comum para as meninas de sua época) e muito “agarrada” ao pai (lembrando ser um caso de complexo de Electra), e já na idade adulta recusando todas as propostas de casamento recebidas e rechaçando todos os seus pretendentes sob o pretexto de não ter o desejo de se casar.
Aliás, o presente Autor usa muito de tais recursos em sua obra, descrevendo em detalhes fatos embasados em conhecimentos científicos e psicanalíticos, usando tais teorias como pano de fundo na construção do enredo e na construção psicológica de seus personagens, recurso este muito usado por outros autores de sua época, no Movimento do Realismo.
Subitamente, Lenita perde seu pai por um mal súbito, o que a deixa transtornada perdendo sua única referência familiar, levando-a a se mudar para a fazenda de um amigo de seu pai e tutor, em busca de alento. Ao chegar por lá descobre a existência de um homem misterioso, quase da idade de seu pai e filho do Coronel dono da tal fazenda, o que instiga e aguça sua curiosidade em conhecê-lo, despertando-lhe instintos secretos as quais ela nunca tivera vivenciado antes.
Ela abandona os livros e os estudos, e passa seus dias a suspirar e vaguear pela fazenda, a espera da chegada do tal moço, alimentando idealizações quanto a ele. O tal mancebo porém fora casado e divorciara-se de uma francesa, o que o proibia, pelas leis brasileiras da época, a contrair um segundo casamento.
Com a sua chegada a fazenda depois de uma longa caçada, Lenita, de início contrariada, se depara com um homem relativamente conservado para sua idade, culto, gentil e instigante, alimentando-lhe ainda mais seu desejo e instigando-lhe instintos libertinos para uma jovem e recatada donzela.
Logo ambos descobrem entre si uma grande afinidade momentânea, com interesses comuns como estudos intelectuais, as ciências e a caça, o que os faz permanecerem cada vez mais tempos juntos e afinados, em um frenesi de trocas de experiências, discussões e andanças à caça pela fazenda, e o casal de senhores pais de Manuel Barbosa, já idosos e adoentados, não veem nada de mal nesta aproximação, já que ambos os enxergam como dois irmãos, ou tio e sobrinha, devido aos laços de amizade e afeto que mantinham com o falecido pai da moça.
Logo Lenita, vendo-se apaixonada, mostra-se disponível e atraente, e Manuel, devido a sua diferença de idade (“tenho idade para ser seu pai”), e sua condição social (divorciado), evita ceder às investidas da moça, temendo e querendo não prejudicá-la, mas o tempo é cruel e a aproximação entre ambos vã, o que lhe “quebra” as resistências, fazendo com que ambos se entreguem a momentos de uma tórrida e voluptuosa paixão, que alimenta a ambos de desejo e paixão, não temendo limites, nem sociais, nem familiares, nem pessoais, transgredindo todas as regras sociais sua época.
Lenita vê em Manuel momentaneamente [a meu ver] a figura de seu pai, perdida subitamente com a sua morte prematura; ela procura em Manuel a substituição daquela figura paterna que lhe oferecia segurança, alento, projeção e proteção, e por momentos, Manuel lhe preenche psicologicamente estes requisitos; mas uma gravidez inesperada a faz cair em si e a repensar suas atitudes, mudando o curso de sua história. Ao descobrir a gravidez, aproveitando a saída temporária de Manuel da fazenda em uma viagem para resolver assuntos externos, Lenita, na calada da noite faz suas malas e, com um breve comunicado avisa ao Coronel (pai de Manuel e dono da fazenda) que está de mudança para São Paulo, partindo repentinamente e deixando o pobre velho atônito. Ela já não mais manifesta desejo por Manuel, julga já não mais tê-lo amado, e resolve cuidar sozinha de seu filho e dar rumo a seu destino sem a interferência do mesmo.
Ao retornar da viagem e saber da mudança repentina de Lenita, Manuel fica consternado, pois constata estar perdidamente apaixonado por ela e sofre demasiadamente com a sua ausência, e com sua indiferença para com ele ao partir tão subitamente.
Dias depois, ele e seu pai recebem cartas de Lenita, comunicando que esta contrairá matrimônio com um antigo pretendente que reencontrou em São Paulo. À Manuel ela conta secamente através de uma carta toda a sua verdade: que está grávida de um filho dele de três meses, que iria se casar com este homem através de um acordo nupcial que favorecia a ambos, para poder dar um nome e um futuro a seu filho, já que Manuel não poderia fazê-lo, por ser considerado pelas leis brasileiras um homem ainda casado, não podendo contrair um segundo casamento, e que se mudaria em seguida para a Europa com o marido logo após a celebração de núpcias.
Consternado, Manuel a chama de “prostituta e rampeira” e julgando-se passado para trás pela jovem moça, abandonado por esta e julgando não conseguir mais viver sem seu grande amor, comete suicídio, ingerindo uma dose letal do veneno cicuta. FIM.


Por Karina Aldrighis.










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