segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

A lenda das Amoreiras segundo Mitologia Grega

                             Afresco de Tisbe e Píramo pintado em uma casa de Pompéia.

Píramo e Tisbe:


Píramo era o jovem mais belo e Tisbe a donzela mais formosa, de toda a Babilônia, no tempo do reinado de Semíramis. Os pais deles moravam em casas contíguas; e os amigos próximos fizeram com que os jovens se conhecessem, e a amizade se transformou em amor. Teriam sido felizes no casamento, porém, foram proibidos por seus pais. Uma coisa, porém, eles não poderiam proibir -- que o amor resplandecesse com igual ardor no peito de ambos. Eles conversavam por meio de sinais e de olhares, e como se amavam em segredo, o fogo da paixão era mais abrasador. Na parede que dividia as duas casas havia uma rachadura, causada por alguma falha na estrutura. Ninguém havia notado isso antes, mas os apaixonados descobriram o defeito. O que é que o amor não descobre! A falha na estrutura permitia a passagem de sons; e mensagens de amor eram costumeiramente passadas de um lado e de outro através do buraco. Quando ficavam de pé, Píramo no seu lado, Tisbe no dela, misturavam suas respirações. "Oh, parede cruel," diziam eles, "qual a razão de manteres dois corações separados? Mas nós não seremos ingratos. Devemos a ti, e confessamos sem pudor, o privilégio de transmitirmos palavras de amor a ouvidos solícitos." Tais palavras eram proferidas em lados diferentes da parede; e quando a noite chegava e eles precisavam se despedir, eles pressionavam seus lábios contra a parede, ela de um lado, ele do outro, já que não podiam aproximar-se mais.
Na manhã seguinte, quando a Aurora havia expulsado as estrelas, e o sol derretido a neve que cobria a relva, eles se encontravam no lugar de costume. Então, depois de lamentar o destino cruel, combinaram, que na noite seguinte, quando tudo estivesse calmo, eles se distanciariam de olhos atentos, deixariam suas casas e passeariam pelos campos; e para realizar o encontro, eles procurariam uma construção bem conhecida que ficava fora das fronteiras da cidade, conhecida como o Túmulo de Nino, sendo que aquele que chegasse primeiro deveria esperar o outro no pé de uma certa árvore. Era uma amoreira branca, que ficava perto de uma fonte de água fria. Ficou tudo combinado, e eles esperaram impacientemente que o sol se escondesse atrás das águas e que a noite se levantasse inexorável. Tisbe, então, cuidadosamente, fugiu sem ser observada pela família, tinha a cabeça coberta por um véu, caminhou até o monumento e se sentou debaixo da árvore. Quando ela estava sentada sozinha sob a fraca luz da noite, ela viu uma leoa, que sua boca exalava o odor de uma vítima recente, e o animal se aproximou da fonte para matar a sede. Tisbe fugiu ao ver a leoa, e buscou refúgio no vão de uma rocha. E quando ela fugia, ela derrubou o seu véu. A leoa, que já havia saciado a sede na fonte, virou-se para se retirar para a floresta, e ao perceber que havia um véu no chão, sacudiu e rasgou o tecido com sua boca ensanguentada.
Píramo, que havia se atrasado, agora se aproximava do local que haviam marcado. Ele viu nas areias as pegadas de leão, e ele ficou pálido diante do que via. Na verdade, ele havia encontrado o véu todo rasgado e com sangue. "Oh, pobre donzela," disse ele, "Eu fui a causa de tua morte! Tu, que mereces viver mais do que eu, pereceste como a primeira vítima. Eu te seguirei. Eu sou o culpado, por atraí-la para um lugar com tanto perigo, sem que pudesse estar no local para te proteger. Vinde, leões, ocultos por entre as pedras, e dilacera com teus dentes este corpo culpado." Ele pegou o véu, e levou consigo até a árvore onde haviam marcado o encontro, e o cobriu de beijos e de lágrimas. "Meu sangue também manchará vosso tecido," exclamou ele, e desembainhando a espada, mergulhou-a em seu coração. O sangue jorrou da ferida, e manchou de sangue as amoras brancas; e ao penetrar a terra tingiu as raízes, de modo que a cor vermelha subiu do tronco e atingiu os frutos.
Nesse instante, Tisbe, ainda trêmula de medo, e não querendo desapontar o seu amado, cautelosamente deu alguns passos, procurando ansiosamente pelo jovem, desejosa de contar a ele o perigo de que tinha escapado. Quando ela chegou no lugar e viu que a cor da amoreira havia mudado, ela duvidou que aquele fosse o lugar combinado. Presa de hesitação, ela avistou o perfil de uma pessoa que se debatia nos labirintos da morte. Ela recuou, assustada, um tremor percorreu-lhe o corpo, assim como os tremores da água parada no momento em que uma súbita brisa sopra sua superfície. Mas assim que ela reconheceu o amado da sua vida, ela gritou e começou a bater no peito, abraçando o corpo sem vida, e derramando lágrimas em seus ferimentos, ao mesmo tempo que beijava seus lábios frios. "Ó Píramo," gritou ela, "como pode isso ter acontecido? Me responde, Píramo; é a tua amada, Tisbe, que está falando. Ouça-me, querido, e levanta tua cabeça tombada!" Ao ouvir o nome de Tisbe, Píramo abriu os olhos, e depois voltou a fechá-los novamente. Ela viu o seu véu manchado de sangue e que a bainha estava sem a espada. "Tiraste a vida pelas próprias mãos, e por minha causa," disse ela. "Também serei corajosa desta vez, para mostrar que o meu amor é tão forte quanto o teu. Te seguirei na morte, porque eu sou a culpada; e a morte que poderia ser a única a nos separar, não irá me impedir de juntar-me a ti. E vós, nossos desafortunados pais, não nos negueis o nosso pedido de união. Porque se o amor e a morte nos uniu, permite que o túmulo nos receba. E tu, árvore, conserva as marcas do assassínio. Que as tuas amoras sirvam ainda como recordações de nossos sangues." E assim dizendo, mergulhou a espada no próprio peito. Seus pais atenderam-lhe o desejo, assim como os deuses. Os dois corpos foram enterrados na mesma sepultura, e a árvore depois disso sempre produziu frutos vermelhos, como acontece até os dias de hoje.

(Texto de Thomas Bulfinch)

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